Ambiente Otimizado para a Aprendizagem
O autismo é referido
como uma desordem de espectro devido à grande variedade de sintomas
presentes em pessoas com o diagnóstico. Pesquisadores, utilizando
tecnologias que possibilitam o estudo da estrutura cerebral, também
afirmam que os cérebros de pessoas com o diagnóstico de autismo variam
vastamente de um para o outro. Por consequência, alguns cientistas têm
sugerido que devemos estudar não apenas a estrutura do cérebro, mas
também o mecanismo em que neurônios (células cerebrais) individuais se
conectam e comunicam para que encontremos o problema de conexão neural
que afete todas as pessoas com autismo. Pesquisadores têm encontrado
evidências de que a maneira com que alguns neurônios são conectados no
cérebro de pessoas com autismo pode levar a uma correlação baixa entre
sinal e ruído.
Isto
significa que muitos dos sinais que as células cerebrais estão enviando
umas para as outras talvez venham acompanhados de “barulho” ou “ruído”,
como a estática em um sinal de rádio. Esta é uma das explicações do
porquê crianças com autismo tornariam-se hiper-estimuladas por
informações sensoriais e teriam então dificuldade para escolher entre
duas fontes diferentes de informação. Por exemplo, é geralmente mais
difícil para uma criança com autismo conseguir ouvir o que o professor
fala quando outras crianças estão fazendo barulho. Estudos analisando a
eletricidade no cérebro de pessoas com autismo mostram que mesmo quando
elas estão tentando ignorar certos aspectos de seu ambiente (como o
barulho em uma sala de aula), seus cérebros respondem a estas
informações do mesmo jeito que respondem à informação que a criança está
tentando prestar atenção (como a voz do professor). O problema para
muitas crianças com autismo parece ser o de “filtragem”, isto é, elas
são menos capazes do que as crianças típicas de filtrar e descartar a
informação sensorial que é irrelevante para o que elas estão tentando
prestar atenção. Consequentemente, os cérebros daqueles com autismo dão
igual valor para todos os estímulos recebidos, causando um bombardeio de
informação sensorial com o qual a criança tem de lidar. Os cérebros de
crianças típicas aprendem a filtrar e descartar os estímulos
irrelevantes durante os primeiros anos de vida, o que possibilita que,
ao começarem a frequentar a escola, consigam focar sua atenção na
atividade pedida pelo professor. É muito difícil para um grande número
de crianças com autismo conseguir aprender em um ambiente onde existem
muitas informações sensoriais concomitantes (incluindo-se barulhos,
toques, cheiros, estímulos visuais, etc.), como acontece em uma sala de
aula.
Crianças com autismo estão absorvendo uma quantidade enorme
de informação a todo momento; isto significa que em algum ponto elas
terão que escolher entre reter ou descartar essas informações. Estudos
demonstram que, em comparação com pessoas neurotípicas, as pessoas com
autismo tendem a retardar este processo de “escolha”. Uma analogia para
este processo seria como andar pelos corredores de um supermercado e
colocar em seu carrinho uma unidade de cada item a venda para apenas
depois, na chegada ao caixa, descartar o que você não quer comprar. Isto
causa uma demora no processamento de estímulos. Estudos com tecnologias
que permitem ver quais partes do cérebro estão sendo utilizadas durante
uma tarefa confirmam que este é o fenômeno acontecendo dentro do
cérebro de pessoas com autismo. Há mais atividade nas regiões do cérebro
designadas para o processamento de baixa ordem (como o andar pelos
corredores do supermercado) do que em regiões cerebrais especializadas
para o processamento de alta ordem (passar pelo caixa e levar para casa
os itens que constavam na sua lista de compras).
Talvez isto
explique por que as crianças com autismo frequentemente apresentam
dificuldades em áreas de processamento de alta ordem (ex: atenção,
organização, linguagem, etc.). Elas passariam tanto tempo tentando lidar
com a recepção de informação sensorial (baixa ordem) que acabariam não
tendo tempo para praticar o processamento de alta ordem que outras
crianças da mesma idade praticam. Desta forma, o cérebro da criança com
autismo começaria a se desenvolver de forma diferenciada em relação ao
cérebro de seu irmão com desenvolvimento típico. Há sinais de que este
estilo de processamento da informação já se encontre presente na época
do nascimento da criança, mesmo que os comportamentos autísticos não
sejam identificados até os cerca de 18 a 24 meses de idade.
Especialistas
dão a este estilo de processamento (que limita-se em parte ao
processamento de baixa ordem) o nome de “ fraca coerência central”. A
coerência central refere-se à habilidade de processar contextualmente a
informação recebida, associando informações para se chegar a um
significado do todo, geralmente às custas da memória de detalhes. Assim
sendo, na fraca coerência central haveria a tendência entre aqueles com
autismo de prender-se ao processamento de detalhes ao invés da visão do
todo em uma situação. Por exemplo, após olhar para figuras idênticas e
receberem a requisição para se lembrarem do que estava na figura, uma
pessoa típica provavelmente descreveria a cena como sendo “um pôr-do-sol
na floresta”, enquanto que uma pessoa com autismo poderia descrevê-la
como “folhas brilhantes, luz laranja e um galho com uma balança
pendurada”. Este estilo de processamento é a razão pela qual algumas
pessoas com autismo, em comparação com pessoas típicas, apresentam
performances superiores em certas tarefas. Uma destas tarefas é o teste
da figura inserida. Como um exemplo desta tarefa, a figura de um carro
seria apresentada para as pessoas. Todas conseguiriam identificar
facilmente o carro. Porém, quando fosse pedido que apontassem os três
triângulos na figura, as pessoas sem autismo seriam muito mais lentas do
que aquelas com autismo. Isto se deve ao fato de pessoas típicas
focarem rapidamente no todo da figura, não prestando tanta atenção aos
detalhes. As pessoas com autismo identificariam rapidamente os
triângulos por estarem acostumadas a ver o mundo através dos detalhes.
Pesquisas
envolvendo pessoas com autismo, desde estudos sobre como as células
cerebrais conectam-se até estudos sobre como as pessoas atuam em testes
psicológicos, nos oferecem a imagem de um mundo fragmentado,
sobrecarregado e tomado por “barulho” para aqueles com autismo. Esta
noção é confirmada por relatos autobiográficos de pessoas com autismo. A
compreensão do mundo fragmentado e sobrecarregado de uma criança com
autismo nos leva a ver a importância que tem o ambiente ao seu redor na
elaboração dos programas educacionais e nos tratamentos que a ela são
oferecidos. Também explica a razão das crianças com autismo procurarem
ordem e previsibilidade em seus ambientes físicos.
Ambientes
físicos com grandes quantidades de estimulação sensorial (ex: painéis
com cores fortes, barulho de fundo, etc.) aumentam o “barulho” num
sistema sensorial já sobrecarregado, tornando extremamente difícil
qualquer nova aprendizagem – como tentar aprender japonês dentro de um
barulhento shopping center. Devido à presença de outras crianças e do
tamanho do espaço físico necessário para abrigá-las, a sala de aula
convencional é altamente limitada em termos de poder atender às
necessidades das crianças com autismo. Até a iluminação por meio de
lâmpadas fluorescentes, tão comum em salas de aula, tem sido apontada em
estudos científicos como sendo um fator que afeta o comportamento de
crianças com autismo. Infelizmente, estas considerações relativas ao
ambiente da criança são geralmente desprezadas e têm sua importância
desvalorizada quando programas educacionais são oferecidos para crianças
com autismo, ou ficam além dos limites físicos e materiais das escolas
convencionais.
A Criação do Ambiente
O
primeiro passo para se construir um programa de tratamento para sua
criança é providenciar a ela um ambiente apropriado para a sua
aprendizagem. Isto geralmente significa SIMPLIFICAR! Aqui estão
sugestões do que fazer:
Dedique um
quarto em sua casa para a criança com autismo. Pode ser o dormitório de
sua criança ou um outro quarto (não muito grande, 4 X 4m é suficiente, e
menor também é OK dependendo da idade da sua criança). O quarto pode
até ser dedicado à criança com autismo apenas durante parte do dia (por
exemplo, quando a criança compartilha um dormitório com um irmão ou
irmã). Faça o melhor possível dentro da situação em que você se
encontra.
Remova todos os brinquedos eletrônicos do quarto
escolhido. Isto inclui televisões, video-games e qualquer coisa movida a
pilha (até livros falados ou cantados e objetos que acendem luzes).
Estes objetos podem ser hiper-estimulantes para a criança com autismo e
podem não encorajar a interação social.
Crie espaço. O ideal é
ter espaço aberto no quarto, como um chão livre de objetos para você
brincar com sua criança. Tenha o mínimo possível de móveis neste quarto.
Além disso, minimize a quantidade de brinquedos no quarto e, se
possível, coloque todos eles numa prateleira ou armário.
Estes
são os primeiros passos recomendados por nós para a criação de um
quarto de trabalho (ou quarto de brincar/de interagir) em casa ou até em
uma escola ou uma clínica. As simples medidas descritas aqui ajudarão a
acalmar o sistema nervoso hiperativo de sua criança ao oferecer a ela
um mundo digerível e administrável, criando-se então a fundação para
oportunidades otimizadas de interações e subsequentes aprendizagens.
fONTE: http://www.inspiradospeloautismo.com.br/Autismo/O%20ambiente/Um%20ambiente%20de%20aprendizagem.html
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