ABA E O AUTISMO
Quando
os pais recebem o diagnóstico de Autismo ou TID de seu filho, passam
por momentos de dúvidas e incertezas. É normal que sintam-se "perdidos" e
desorientados.
Eu costumo indicar leituras para que os pais comecem a se familiarizar com este mundo chamado "Autismo".
Sabemos
que quanto antes o diagnóstico, melhores são as chances da criança
desenvolver suas potencialidades, já que inicia-se logo o tratamento.
No
Brasil existem alumas opções de tratamento. A abordagem que eu utilizo é
ABA, ou Análise do Comportamento Aplicada, que vem da Psicologia
Comportamental. É uma das abordagens mais utilizadas no mundo todo,
sendo bastante comum nos Estados Unidos.
ABA
tem se mostrado ser muito eficaz nos casos de Autismo, já que esta
abordagem permite o ensino de novas habilidades (sociais, comunicativas,
de brincar, pedagógicas e motoras), bem como a diminuição ou eliminação
de comportamentos considerados problemáticos (auto e hetero
agressividades, estereotipias motoras, crises de birra, etc..).
Aos poucos está se tornando mais conhecida do público, mas em Florianópolis desconheço outra terapeuta que utilize ABA também.
Tem um texto resumido muito bom da psicóloga Sabrina Helena Bandini Ribeiro, que saiu na Revista Autismo de setembro de 2010.
Vou colocá-lo aqui, pois acho que dá pra entender bem a proposta do ABA.
Podem mandar e-mail com dúvidas: gitrida@yahoo.com.br
ABA: uma intervenção comportamental eficaz em casos de Autismo.
O
autismo é uma condição crônica, caracterizado pela presença de
importantes prejuízos em áreas do desenvolvimento, por esta razão o
tratamento deve ser contínuo e envolver uma equipe multidisciplinar
(Schwartzman, 2003).
A
eficácia de um tratamento depende da experiência e do conhecimento dos
profissionais sobre o autismo e, principalmente, de sua habilidade de
trabalhar em equipe e com a família (Bosa, 2006).
Existem
vários tipos de tratamento que podem ser usados para ajudar uma criança
com autismo. Independente da linha escolhida, a maioria dos
especialistas ressalta que: o tratamento deve começar o mais cedo
possível; as terapias devem ser adaptadas às necessidades específicas de
cada criança e a eficácia do tratamento deve ser medida com os avanços
da criança.
Sabe-se
que uma boa intervenção consegue reduzir comportamentos inadequados e
minimizar os prejuízos nas áreas do desenvolvimento. Os tratamentos
visam tornar os indivíduos mais independentes em todas as suas áreas de
atuação, favorecendo uma melhoria na qualidade de vida das pessoas com
autismo e suas famílias.
Neste
artigo tentarei explicar ao leitor um pouco sobre a metodologia ABA,
que é usada como um método de intervenção comportamental no tratamento
dos sintomas do autismo.
A análise do comportamento aplicada, ou ABA (Applied Behavior Analysis,
na sigla em inglês) é uma abordagem da psicologia que é usada para a
compreensão do comportamento e vem sendo amplamente utilizada no
atendimento a pessoas com desenvolvimento atípico, como os transtornos
invasivos do desenvolvimento (TIDs). ABA vem do behaviorismo e observa,
analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e
a aprendizagem (Lear, K., 2004)
As
origens experimentais da terapia comportamental trouxeram algumas
vantagens importantes ao clínico: ele foi treinado na observação de
comportamentos verbais e não verbais, seja em casa, na escola e/ou no
próprio consultório, o que é fonte de dados relevantes. Ele estuda o
papel que o ambiente desempenha – ambiente este onde é possível
interferir e verificar as hipóteses levantadas. Outra habilidade é o
entendimento do que é observado como um processo comportamental, com
contínuas interações e, portanto, sujeito a mudanças (Windholz, 2002).
As
técnicas de modificação comportamental têm se mostrado bastante
eficazes no tratamento, principalmente em casos mais graves de autismo.
Para o analista do comportamento ser terapeuta significa atuar como
educador, uma vez que o tratamento envolve um processo abrangente e
estruturado de ensino-aprendizagem ou reaprendizagem (Windholz, 1995).
Um
dos princípios básicos da ABA é que um comportamento é qualquer ação
que pode ser observada e contada, com uma freqüência e duração, e que
este comportamento pode ser explicado pela identificação dos
antecedentes e de suas consequências. É a identificação das relações
entre os eventos ambientais e as ações do organismo. Para estabelecer
estas relações devemos especificar a ocasião em que a resposta ocorre, a
própria resposta e as conseqüências reforçadoras (Meyer, S.B., 2003).
Estes comportamentos são motivados, de forma prazerosa. Eles têm uma função: servem para conseguir algo que se deseja.
Sabemos
que todos os comportamentos de um modo geral são aprendidos, bem como
os comportamentos problemas. Isso não significa que alguém
intencionalmente nos ensinou a exibir este tipo de comportamento
problema, apenas que aprendemos que eles são eficazes para conseguirmos o
que queremos.
O
método ABA pode intencionalmente ensinar a criança a exibir
comportamentos mais adequados no lugar dos comportamentos problemas.
Comportamentos
estão relacionados a eventos ou estímulos que os precedem
(antecedentes) e a sua probabilidade de ocorrência futura está
relacionada às conseqüências que os seguem.
Todo
comportamento é modificado através de suas conseqüências (Moreira e
Medeiros, 2007). Tentamos fazer coisas e se elas funcionam faremos
novamente; quando nossas ações não funcionam é menos provável que as
realizemos novamente no futuro.
Os objetivos da intervenção são:
1.
Trabalhar os déficits, identificando os comportamentos que a criança
tem dificuldades ou até inabilidades e que prejudicam sua vida e suas
aprendizagens.
2.
Diminuir a freqüência e intensidade de comportamentos de birra ou
indesejáveis, como, por exemplo: agressividade, estereotipias e outros
que dificultam o convívio social e aprendizagem deste indivíduo.
3. Promover o desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas, adaptativas, cognitivas, acadêmicas etc.
4. Promover comportamentos socialmente desejáveis
A
intervenção é baseada em uma análise funcional, ou seja, análise da
função do comportamento determinante, para eliminar comportamentos
socialmente indesejáveis. Este é um ponto central para entendermos qual é
o propósito do comportamento problema que a criança está apresentando
e, com isso, montarmos a intervenção para modificá-lo. Se o
comportamento é influenciado por suas consequências, podemos
manipulá-las para entendermos melhor como essa sequência se dá e também
modificar os comportamentos das pessoas, programando conseqüências
especiais para tal (Moreira e Medeiros, 2007).
O
primeiro passo para se resolver um comportamento problema é identificar
a sua função. Se não soubermos por que uma criança deve se engajar em
um comportamento adequado (qual a função ou propósito), será difícil
saber como devemos ensiná-la.
Pais,
terapeutas e professores tendem a imaginar ou achar um motivo para o
comportamento e isso incorrerá no insucesso da intervenção. A avaliação
comportamental é a fase da descoberta, e visa à identificação e o
entendimento de alguns aspectos relativos à criança com autismo e seu
ambiente. Alguns dos objetivos da avaliação são:
Com
base nestas informações, o segundo passo é traçar pequenos objetivos a
curto prazo, visando à ampliação de habilidades e eliminação de
comportamentos inadequados, realizando a manipulação dos antecedentes
(estratégias de prevenção).
É
importante que a modificação de comportamentos desafiadores seja feita
gradualmente, sendo a redução da ansiedade e do sofrimento o objetivo
principal. Isto é feito pelo estabelecimento de regras claras e
consistentes (quando o comportamento não é admitido ou permitido); uma
modificação gradativa; identificação de funções subjacentes, tais como
ansiedade ou incerteza; modificações ambientais (mudança nas atitudes ou
tornar a situação mais previsível) e transformação das obsessões em
atividades adaptativas (Bosa, 2006).
Modificando os antecedentes podemos prevenir que o comportamento problema aconteça.
Isto é realizado de diferentes maneiras:
1. Evitando situações ou pessoas que sirvam como antecedentes para o comportamento problema;
2.
Controlando o meio ambiente – no decorrer da vida do indivíduo o
ambiente modela, cria um repertório comportamental e o mantém; o
ambiente ainda estabelece as ocasiões nas quais o comportamento
acontece, já que este não ocorre no vácuo (Windholz, 2002).
3.
Dividindo as tarefas em passos menores e mais toleráveis, o que
chamamos de aprendizagem sem erro. Toda a intervenção está baseada na
aprendizagem sem erros, ou seja, deixamos de lado o histórico de
fracassos e ensinamos a criança a aprender.
Esta
aprendizagem deve ser prazerosa e divertida para a criança, podendo-se
usar reforçadores para manter a criança motivada. Um reforço é uma
conseqüência que aumenta a probabilidade de esta resposta acontecer
novamente. Quando um comportamento é fortalecido, é mais provável que
ele ocorra no futuro.
Além
do reforço, usamos a hierarquia de dicas: quando iniciamos o ensino de
qualquer comportamento, ajudamos a criança a realizá-lo com a dica
necessária, que pode ser verbal (total ou parcial), física, leve,
gestual, visual ou auditiva – e planejamos a retirada dessa dica até que
a criança seja capaz de realizar o comportamento de maneira
independente.
O
terceiro passo é a elaboração de programas de ensino. Os programas de
ensino são individualizados, geralmente ocorrem em situação de “um para
um” e envolvem as diversas áreas do desenvolvimento: acadêmica,
linguagem, social, verbal, motora, de brincar, pedagógica e atividades
de vida diária.
A
metodologia ABA e seus procedimentos são constantes e padronizados, o
que possibilita que mais de um professor (pessoa que realiza os
programas) trabalhe com a criança.
Este
é um programa intensivo e deve ser feito de 20 a 30 horas por semana. É
importante ressaltar que este programa não é aversivo e rejeita
qualquer tipo de punição.
A
participação dos familiares da criança no programa é de grande
contribuição para seu sucesso e assegura a generalização e manutenção de
todas as habilidades aprendidas pela criança.
Sabrina Helena Bandini Ribeiro
é psicóloga, trabalha com pessoas com autismo desde 1995, é mestre em
Distúrbios do Desenvolvimento, pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, especialista em Assistência Psicoprofilática em Medicina
Fetal, pela Universidade Federal de São Paulo, e atende em São Paulo e
Atibaia (SP), além de ser professora do curso de graduação em Psicologia
da FAAT (Faculdades Atibaia) e fez parte do grupo de pesquisa sobre
transtornos invasivos do desenvolvimento e avaliação neuropsicológica do
Laboratório de Distúrbios do Desenvolvimento, na Universidade
Presbiteriana Mackenzie. E-mail: sabandini2@yahoo.com.br
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